Artigo/Entrevista
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“ E o evento do ano é...? ”
Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26)Dentro de duas semanas, a Escócia será o centro de todas as atenções! E não será pela singularidade da sua paisagem, pelo afamado Whisky ou pelo emblemático Kilt. Durante 12 dias, os líderes mundiais reúnem-se na cidade de Glasglow, num evento que se apresenta como “a última grande oportunidade do mundo para travar a mudança climática descontrolada” – a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26).
Este importante encontro surge poucos meses após a divulgação de um relatório muito crítico sobre o estado da nossa casa - o velho planeta azul, pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), uma estrutura criada para fornecer aos decisores políticos avaliações científicas regulares sobre as alterações climáticas, as suas implicações e potenciais riscos futuros. Neste documento, ficou bem expresso o peso da influência humana no processo de aquecimento global e os inúmeros fenómenos a ele associados, alguns dos quais irreversíveis. Os cientistas afirmam que, mesmo reduzindo ao máximo as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), não iremos conseguir travar fenómenos já em marcha, como o degelo ou a subida do nível médio das águas do mar. Por outras palavras, e não sendo a única variável em cima da mesa, os combustíveis fósseis são efectivamente um problema (enorme) que não temos como ignorar.
Neste contexto pouco animador, junta-se o facto de nenhum dos cenários calculados (nem mesmo os mais optimistas!) conseguir demonstrar que iremos conter o aquecimento global aos 1,5ºC como se ambicionava em 2015, com o Acordo de Paris. Não obstante a dura realidade em que nos encontramos, a organização da COP26 insiste na possibilidade de travarmos o aquecimento global, mas para tal, a neutralidade carbónica tem de ser alcançada até meados deste século, exigindo uma ação concertada a quatro níveis: reduzir urgentemente o uso do carvão como recurso energético, travar a desflorestação, acelerar a mudança dos padrões tradicionais de mobilidade (com a transição para os veículos elétricos, por exemplo) e reforçar a utilização de todo o potencial oferecido pelas energias alternativas (renováveis).
As palavras de ordem estão pois devidamente sinalizadas: mitigar, adaptar, colaborar e… financiar (porque tudo isto implicará custos elevadíssimos, mas ainda assim, inferiores aos custos que teríamos no futuro, se optássemos pela tentação de deixar ficar tudo na mesma…).
Perante estas circunstâncias, a UE surge na linha da frente da discussão pública em torno da crise climática. Desde logo, porque continua a ser o maior contribuinte a nível mundial em termos de financiamento da luta contra as alterações climáticas, apoiando projetos nos países em desenvolvimento para facilitar a sua transição ecológica e promover a adaptação (possível) às suas consequências. E depois, porque em boa hora anunciou o Pacto Ecológico Europeu como uma nova estratégia de crescimento da UE, rumo à desejada neutralidade carbónica até 2050, dando seguimento a um longo histórico em prol da redução das emissões dos GEE, com o compromisso em 2008 de uma redução em 20%, valor que foi recentemente atualizado para os 55%, até 2030.
Inteligentemente, e porque “palavras, leva-as o vento”, a Comissão exigiu a todos os Estados-membros que 37% do valor global dos Planos de Recuperação e Resiliência fosse aplicado em investimentos estratégicos de suporte à transição ecológica. Não obstante o mérito da estratégia, a UE já deixou o alerta, recordando que este desafio climático não se resolverá com o esforço de alguns e, como tal, a sua posição oficial para a COP26 é muito clara: “a UE apelará a todas as partes no Acordo de Paris para que apresentem metas nacionais ambiciosas de redução das emissões e convidará os países desenvolvidos a intensificarem o financiamento internacional da ação climática”.
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