Artigo/Entrevista

Solução? Navegar à vista…

Mas algo sobressai no meio de todo este cenário: a solidariedade europeia.

Fui rever o meu último artigo, escrito no início do mês de Janeiro. Dei-lhe como título “O lado B(om) de 2022”(!) e fi-lo para contrariar o pessimismo que parecia dominar o discurso no arranque de ano novo, em torno da imprevisibilidade da pandemia e consequente agravamento da crise económica e social. Disse então que havia muito mais vida para além da pandemia e dos seus efeitos nefastos. E tinha razão!

A variante ómicron, com a sua rápida propagação mas efeitos menos graves, fez disparar o número de contágios e caminhar rumo a uma nova normalidade, com o aliviar das restrições na generalidade dos Estados-membros. Consequentemente, o Pacto Ecológico Europeu e os desafios da transição ecológica e digital voltaram a marcar (e bem) a agenda europeia, até porque, o combate à pandemia teve também impactos na execução do roteiro traçado pela Comissão Europeia, rumo à imprescindível neutralidade climática.

Mas o que ninguém esperava (absolutamente ninguém!) era que, de um momento para outro, sem qualquer razão ou perdão, o Presidente russo iniciasse uma cruzada sem paralelo, rumo ao ocidente, aos seus valores e ao seu modo de vida pacífico, interrompendo um ciclo de paz reconhecido e apreciado pela generalidade dos europeus como uma das grandes vantagens da UE, a par da afirmação das 4 liberdades (livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais).

Sobre esta invasão, confesso não conseguir escrever uma única linha. Os peritos já disseram tudo o que haveria para ser dito, relatando os factos para os quais ninguém neste mundo, com a devida honestidade intelectual, consegue encontrar uma justificação credível e aceitável, à excepção daqueles que, tal como o He-Who-Must-Not-Be-Named, pararam no tempo, desprezando o elementar respeito à vida, à liberdade e à paz. Mas consigo distanciar-me o suficiente para tentar compreender o que vejo à minha volta: uma comunidade internacional indignada, estupefacta e incrédula perante um assalto inusitado de um Estado soberano e democrático.

Perante este cenário improvável, manifestações voluntárias de apoio têm surgido pelo mundo, a começar pelos próprios russos, desafiando as forças de segurança e expressando a sua discordância e a vergonha pelas atrocidades que se cometem na vizinha Ucrânia, onde têm amigos e familiares. Por cá, por mais que custe assistir ao atropelo diário dos direitos humanos a prudência recomenda alguma serenidade nos ânimos. A resposta europeia terá de estar forçosamente articulada com a comunidade internacional e com a NATO. Os sucessivos pacotes de sanções económicas recentemente aprovados são severos e vão causar sérios danos na Rússia (com ricochetes na nossa economia).

Mas algo sobressai no meio de todo este cenário: a solidariedade europeia. Nunca escondi o meu europeísmo, mas esta nova realidade despertou o meu orgulho nesta União. A Europa e os seus Estados-membros têm-se desmultiplicado em diversas frentes no apoio às vítimas da guerra, apontando para aquele que poderá ser o caminho para o futuro: a plena integração da Ucrânia na UE, ainda que as incertezas sobre as reais intenções do Kremlin, determinado a arrastar esta ofensiva o tempo que for necessário até conseguir os seus intentos, inviabilizam para já qualquer raciocínio lógico e devidamente estruturado nesta matéria.

Tudo isto, fez-me recordar o quanto é bom termos amigos e uma família que nos acolhe e que seja o nosso porto seguro. Ainda para mais, quando esta família europeia a que pertencemos assenta em valores essenciais como o respeito pela “dignidade humana, a liberdade, a democracia, a igualdade, o Estado de direito e o respeito pelos direitos do Homem” (artigo 2 do Tratado da União Europeia).

Publicado por:

Marco Teles

Data de Publicação:

03 Mar, 2022 às 09:03

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