Artigo/Entrevista

18 ANOS | 18 Geógrafos

Entrevista Ana Isabel Peixoto

Quem é a geógrafa Isabel Peixoto?

Sou madeirense, nascida na década de 90, filha de uma terra com uma diversidade geográfica de caraterísticas de insulares, como é comum ouvirmos caraterísticas associadas ao mar e à serra. Durante o meu percurso de vida residi em diversos concelhos da ilha da Madeira o que permitiu desde muito cedo perceber a dinâmica da nossa ilha. Vivi a minha infância em espaço rural, no Porto da Cruz, depois mudei-me para uma área periurbana e no secundário acabo por vivenciar a vida citadina, oferecida pela cidade do Funchal. Após o secundário, escolhi o Porto como local de residência e estudo, nesta cidade formei-me, enriqueci os meus conhecimentos como geógrafa que acabou por toldar, em certa medida, a minha personalidade, passando a ser mais atenta nos pormenores, perceber que nos ligamos sentimentalmente aos locais, o que criou o desejo e uma necessidade em viajar e conhecer novos locais, que em primeiro concretizou-se em território nacional e mais tarde passei as nossas fronteiras. Após a experiência de trabalhar na Universidade do Porto voltei à Ilha da Madeira, para prosseguir a minha jornada profissional, passando pela Associação Insular de Geografia e, no presente, na Câmara Municipal do Funchal. O percurso percorrido até agora, permite-me afirmar que a geografa Ana Isabel Peixoto, é uma geografa que adora desafios e adora conhecer e trabalhar nas diversas áreas temáticas que a geografia abrange.

Quando descobriu o seu interesse pela ciência geográfica?

Costumo dizer que a veia de geógrafa está presente desde de criança, pois os meus familiares indicam-me que tinha um ótimo sentido de orientação, mais tarde, descobri que um geógrafo não se perde, no máximo desorienta-se. Além disso, sempre gostei de observar e perceber como era a dinâmica do território, exemplo o porquê das pessoas trabalharem num sítio, residirem noutro, de compreender a relação causa-efeito da manifestação dos riscos naturais, foram assuntos que sempre fascinaram-me. Durante a frequência do 2° e 3º ciclo de estudos, todos professores que lecionaram a disciplina de Geografia recomendavam enveredar para esta área por ser ótima aluna na disciplina, contudo, a minha paixão era a Matemática. A escolha pelo curso concretizou-se no último ano do Secundário ao analisar os planos de estudos das minhas áreas de interesse. No secundário sempre quis seguir a área de matemática na vertente ensino, depois surgiu a hipótese pela área da gestão e da economia, venceu o fascínio de criança, a Geografia. 

Em que instituição de ensino superior se formou? Qual era a sua unidade curricular preferida?

A minha formação foi realizada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tanto a Licenciatura em Geografia como o Mestrado de Riscos, Cidades e Ordenamento do Território, na cidade que sempre me foi muito querida. Referente à disciplina preferida, não consigo somente escolher uma, posso dizer que as disciplinas que conquistaram a minha atenção e motivavam a pesquisar além da matéria lecionada, foram a disciplina de Riscos Naturais, Sistemas de Informação Geográfica e Geografia Urbana. Agora ao refletir, são três áreas que hoje andam de mãos dadas. No mestrado, sem dúvida que Leitura da Paisagem e Riscos e Ordenamento do território.

Sendo que já foi no passado, uma colaboradora da Associação Insular de Geografia, como recorda essa experiência profissional?

A experiência profissional na Associação Insular de Geografia é algo que me lembro com muito carinho, além do crescimento pessoal é um sítio em que construi amizades para a vida. Pelo lado técnico-científico, ressalto a oportunidade que tive para enriquecer e aprender sobre as temáticas ligadas ao turismo e mobilidade urbana. Redescobrir a Madeira pelo prisma de geógrafos com muito conhecimento sobre a mesma. Do lado pessoal, deixa uma eterna saudade, a equipa era excecional, a complementaridade, a solidariedade que existia era muito satisfatória, estávamos todos no mesmo barco, com o mesmo objetivo, o enaltecer o trabalho realizado na Associação Insular de Geografia.

Atualmente, desempenha a sua atividade profissional no Serviço Municipal de Proteção Civil do Funchal. Se para termos uma população mais resiliente é fulcral atuar na literacia do risco, na sua opinião, hoje em dia, qual o método mais eficaz para comunicar o risco junto à comunidade?

Sim, hoje exerço funções como geógrafa no Serviço Municipal de Proteção Civil do Funchal (SMPCF), uma das funções é o de ser formadora no projeto Núcleos de Proteção Civil (NPC) e no Projeto Educativo Municipal. Da experiência adquirida e pelos prémios que o projeto NPC arrecadou, considero que o método de comunicação do risco tem que ter por base as metodologias participativas, o envolver as pessoas na sua segurança, o lema da Autoridade Nacional de Emergência de Proteção Civil é "Somos Todos Proteção Civil" o que demonstra a responsabilidade, que nós cidadãos, que temos tanto na prevenção como na nossa autoproteção. Se não conheceremos a origem dos riscos, se não soubermos o que é que estamos expostos, como podemos ser eficientes na nossa proteção? É este caminho que julgo que se deve seguir, temos que envolver a população no processo de transmissão da informação, contextualiza-la, ajudando a construir ou a desconstruir as suas perceções de risco. O envolvimento da população é crucial, pois caso contrário a transmissão de informação realizada não será eficiente, uma vez que não irão perceber a importância do conhecimento que está a ser transmitido para a sua vida, para a sua segurança. Para que isto aconteça, deve-se pela adaptação ao perfil de grupo que comunicamos, porque as preocupações da comunidade do Curral dos Romeiros é distinta da Barreira, se a informação a transmitir for transversal sem adaptação, acredito que a motivação das pessoas para se envolver decresça. Concluo que a comunicação de risco deve ter em atenção o perfil da comunidade e as especificidades / padrões de risco na área em intervenção e sobre tudo os ensinamentos/ experiências da comunidade, porque podemos afirmar que são as pessoas que conhecem a sua área de vivência, sabendo identificar os problemas, bem como, as soluções.

Ao longo da sua carreira profissional, qual o projeto que destacaria? Porquê?

O projeto Núcleos de Proteção Civil, por estar envolvida no seu planeamento e sua execução desde o início, por recorrer às metodologias participativas, permitindo complementar a geografia com outras ciências, sendo um projeto que prepara as pessoas para situações de emergência. O projeto permite uma interligação das temáticas relacionadas riscos naturais, mistos e tecnológicos de proteção civil e com as competências pessoais e sociais, ou seja, treinasse a comunidade para o saber-saber, saber-fazer e o saber-ser, o que torna-o muito satisfatório. A metodologia adaptativa ao perfil do grupo e do território que trabalhamos é algo desafiador em que exige sempre novos desafios, sendo um projeto dinâmico, como a realidade o exige, por todo isto é eu o destaco.

Costuma-se dizer que o “escritório do geógraf@ é o mundo”. Qual foi a viagem mais marcante para si? Conte-nos um pouco da geografia desse lugar.

A viagem mais marcante, sem dúvida alguma, foi para Nova Iorque, a cidade que não dorme. Como “turista geografa” fico mais atenta aos aspetos relacionados com a geografia social do que física e muitas das vezes andam em paralelo. Relativamente a Nova Iorque, a dinâmica é algo que extravasa a perceção que temos, tanto económica como populacional. O fluxo de pessoas a entrar na cidade, para quem que observa, parece quase que automática todos os dias, o apanhar o seu metro, o subir pela direita e o descer pela esquerda nas escadarias, a utilização do táxi para descolar-se, completamente distinto de nós cá que privilegiamos o uso de transporte individual. O Parque de Manhattan consegue-nos transportar para uma paisagem que normalmente não se coaduna com uma área citadina daquela dimensão. Na área envolvente, a uma hora de distância, reporta-nos para outra realidade, áreas rurais e é volta a ser fascinante, sobretudo, pelo sentimento de comunidade. As quintas com plantação aberta ao público é algo excecional, aproveitando as longas planícies que possuem. Algo que destaco é a confiança comunitária, as pessoas deixam a lenha na berma da estrada para venda, ninguém fica a controlar, simplesmente quem quiser compra, colocando o dinheiro na caixa construída para esse efeito. 

Que conselho daria a um recém-licenciado em geografia?

Um conselho que costumo sempre dar é que escolham entidades para a realização do estágio que permita executar e aplicar os conhecimentos apreendidos nas diversas disciplinas, de forma a ganhar métodos de trabalho, bem como, descobrir a área que realmente o motiva todos os dias. Quando trabalhamos na área que gostamos, os problemas, não são problemas, mas sim desafios.

 Numa frase, diga-nos qual a importância da geografia para a nossa sociedade.

A Geografia é advogada do território! 

Publicado por:

Ana Peixoto

Data de Publicação:

22 Nov, 2023 às 14:38

(Editado: 22 Nov, 2023 às 14:52)

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