Artigo/Entrevista
- Associação Insular de Geografia /
- Artigo/Entrevista
“ 18 ANOS | 18 GEÓGRAFOS ”
Raquel Brazão1. Quem é a geógrafa Raquel Brazão?
A geógrafa Raquel Brazão é uma profissional que se considera atenta aos fenómenos que a rodeia e procura, através da sua participação cívica, colaborar na construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável.
As respostas às questões que se seguem, ajudam a conhecer melhor a geógrafa Raquel Brazão.
2. Quando descobriu o seu interesse pela ciência geográfica?
A diversidade e a natureza dos conteúdos temáticos ministrados na disciplina de geografia, ao longo do percurso escolar, despertaram-me interesse. É uma disciplina que nos obriga a refletir e a correlacionar, ou seja, é uma disciplina que nos provoca e nos incita ao raciocínio. Foi no 12.º ano de escolaridade que senti um maior apelo. As teorias elaboradas, do Determinismo e do Possibilismo, entre outros conteúdos relevantes, levaram-me a colocar a geografia como forte opção para prosseguir os meus estudos superiores. Não foi a única opção, confesso, mas foi a que prevaleceu, e ainda bem!
3. Em que instituição de ensino superior se formou? Qual era a sua unidade curricular preferida?
Foi na Universidade Nova de Lisboa de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas que ingressei e conclui, em 1993, a licenciatura em Geografia e Planeamento Regional. 20 anos mais tarde, na mesma instituição de ensino, obtive o grau de mestre em Gestão do Território.
Sempre nutri especial gosto pelas disciplinas que versavam o ordenamento do território, de que são exemplo: Desenvolvimento Regional e Urbano e Metodologias de Planeamento Regional e Urbano.
4. No início da sua carreira profissional teve a oportunidade de abraçar a docência. Como recorda essa experiência?
Recordo a experiência na docência, com orgulho. Foi a minha primeira experiência profissional, através da qual partilhei, mas também adquiri, muito conhecimento. Entretanto, a vontade de abraçar outros projetos, levou-me por outras paragens.
Aproveito para deixar o meu tributo a todos os docentes que, por entre triunfos e dificuldades, desempenham uma das mais nobres profissões.
5. Atualmente, trabalha na Câmara Municipal do Funchal. Ao longo da sua atividade nesta instituição, qual o projeto que destacaria? E porquê?
Em 2024 cumpro, precisamente, 30 anos de funções na Câmara Municipal do Funchal. Trouxe comigo para esta instituição, o advento dos SIG (Sistemas de Informação Geográfica). À data, tratava-se de uma tecnologia ainda rudimentar, mas já deixava antever o seu potencial como ferramenta de apoio à gestão e à decisão, muito em particular, nas áreas do Planeamento e Ordenamento do Território, Mobilidade e Ambiente.
Passados cerca de 20 anos em torno dos SIG, tive incursões noutras áreas, como sejam, Turismo, Cultura, Economia e Fiscalização.
Foram várias as realizações conseguidas ao longo dos anos, mas tendo que destacar um projeto, destacaria o projeto GeoFunchal - uma base de dados de informação georreferenciada do concelho do Funchal que, ainda hoje, funciona como ferramenta de apoio à gestão municipal.
6. A Raquel Brazão faz parte dos órgãos sociais da direção da AIG, como vê a evolução desta instituição ao longo dos seus dezoito anos de existência?
Vejo a evolução da AIG ao longo destes 18 anos com muita admiração. É para mim uma honra integrar os órgãos sociais desta associação, um organismo dinâmico, que faz muito, com pouco.
Projetos como O GIRO – Área Protegida do Cabo Girão, ou o Ecos Machico – Património Cultural e Natural, são apenas dois exemplos de projetos que demonstram a capacidade de realização da AIG. Esta associação, sem fins lucrativos, tem conseguido afirmar-se, acima de tudo, pela dedicação e pela visão dos diferentes geógrafos que a têm liderado.
7. Qual o maior desafio que, na sua opinião, se coloca à AIG, na atualidade?
Com a experiência de 18 anos de atividade e uma nova sede, gostaria que os próximos anos reservassem à AIG uma dinâmica ainda maior e capacidade de angariar mais associados. Tenho a noção de que é necessário um corpo técnico mais alargado e estável para que a AIG possa responder a tal desiderato.
Gostaria, ainda, que a AIG se afirmasse, cada vez mais, como um parceiro incontornável das instituições regionais e da sociedade civil, na resposta aos desafios atuais e futuros da Região, designadamente, no campo do desenvolvimento sustentável, nos domínios ambiental, social e económico. Esta seria, por certo, uma forma indireta de granjear cada vez maior interesse pela formação superior em Geografia.
8. Costuma-se dizer que o “escritório do geógrafo é o mundo”. Qual foi a viagem mais marcante para si? Conte-nos um pouco da geografia desse lugar.
Até ao momento, a viagem mais marcante que fiz foi a Pompeia, um verdeiro regalo para um Geógrafo, e não só. Na realidade, o esplendor desta viagem iniciou-se em Roma, pela incontornável carga histórica e pela riqueza arquitetónica e artística que marcam de forma avassaladora, aquela região.
Volto a Pompeia, cidade do Império Romano, edificada no século VII a. C. porque, não bastasse estar localizada na base de um vulcão, o Vesúvio, que apesar de adormecido desde 1944, faz-se notar pela enorme cratera e por diversas fumarolas. Uma montanha imponente, próxima de Nápoles, de beleza ímpar!
No sopé da montanha, temos Pompeia, uma cidade de média dimensão, com uma vitalidade muito marcada pelo turismo, paredes meias com a outra Pompeia, uma cidade em ruínas, com zonas fossilizadas, parcialmente cobertas por cinzas vulcânicas e outros materiais piroclásticos, resultantes da erupção do Vesúvio, no ano 79.
Caminhar pelas ruínas de pompeia foi, para mim, uma experiência muito marcante. Senti-me a recuar no tempo e percebi melhor como era a vida há muitos séculos atrás. Encontrei nas ruínas de Pompeia, as bases do urbanismo tal como o conhecemos hoje: Plantas ortogonais, usos do solo perfeitamente definidos, equipamentos de uso coletivo, sistemas de drenagem e saneamento básico, rede de fontanários de abastecimento público de água potável e ruas de comércio especializado.
Mais do que uma lição de História, uma lição de Geografia. Consegui percecionar em Pompeia, não apenas património e correntes arquitetónicos, mas também, as vivências e interações socias, culturais e económicas da cidade, assim como a relação do homem com o meio que o envolve. Uma cidade a visitar!
9. Que conselho daria a um recém-licenciado em geografia?
O conselho que daria a um recém-licenciado é o de não ousar pensar que a licenciatura em geografia é um fim em si mesmo. Bem pelo contrário. A licenciatura proporciona-nos apenas as bases para iniciarmos uma carreira e, ela própria, encarregar-se-á de nos mostrar que é necessário continuar a explorar e a investigar. Todos conhecemos diversos técnicos que se distinguiram como urbanistas, botânicos, climatologistas, técnicos especializados em hidrologia, proteção civil, ambiente, entre outros domínios, contudo, a sua formação de base é, efetivamente, a Geografia.
10. Numa frase, diga-nos qual a importância da geografia para a nossa sociedade.
Pela visão holística e sistémica com que encara os fenómenos sociais e humanos, podemos encontrar na ciência geográfica a resposta às questões que se colocam à sociedade moderna, cada vez mais complexa e plural.
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